Nos trilhos da Rússia sob o sol da meia-noite

Vivian Oswald/De O Globo, em Moscou

Moscou, Petrozavodsk, Ilha de Kiji e São Petersburgo. Quatro dias sobre os trilhos em direção ao Norte da Rússia em pleno verão mostram que o país está longe de ser previsível.

A bordo destes trens, que certamente fazem inveja ao Brasil — um país de iguais proporções continentais historicamente avesso a linhas férreas — pode-se entender um pouco mais a complexidade deste outro mundo, ainda que por meio de um trajeto curto a uma nesga deste território vasto.

Os trens podem ser antigos, como o de número 649 do trecho Petrozavodsk/São Petersburgo, ou novos em folha e luxuosos, como o Flecha Vermelha, de número 1. Dizem que quanto maior a numeração dos carros, pior o grau de conforto. O fato é que a qualidade é indiscutível.

O espetáculo das noites brancas, que marcou a viagem do início ao fim, explica por que os russos comemoram a chegada do verão com um grande festival antes mesmo de ele se tornar concreto. Os dias parecem não acabar nunca. Dão a sensação de que a estação dura pouco, mas – como tudo aqui – é intensa e deve ser aproveitada ao máximo.

O sol do fim da tarde iluminava o enorme busto de Lênin da estação Leningradskaya, em Moscou, no momento do embarque no trem equipado com travesseiros, toalhas, programação de DVD e revistas de bordo que partiu pontualmente às 18h25. Como não há vagão-restaurante, o jeito é comprar víveres do ferromoço que circula com uma cesta de piquenique entre as composições.

Florestas e água

Seguindo para o Norte, vamos rumo à república da Carélia, que vai de São Petersburgo até o Círculo Polar Ártico. Metade do território é ocupado por florestas, e o restante, majoritariamente coberto por água – são mais de 60 mil lagos. Entre eles o Onega, onde fica a Ilha de Kiji, por sua vez lar da Igreja da Transfiguração, patrimônio mundial da Humanidade pela Unesco.

O ponto de partida para Kiji é a cidade de Petrozavodsk, 420km a nordeste de São Petersburgo, onde o trem chegou às 8h40m. Criada em 1703 para a fabricação de ferro e armas para Pedro, o Grande, a cidade tem um centro coarado de prédios stalinistas ou pós-stalinistas e ruas batizadas Lênin e Marx. Curiosamente, o nome da cidade aparece em russo e carélio (idioma da família do finlandês) nas fachadas dos edifícios.

O barco zarpa para Kiji às 11h30m, de um píer cheio de bares com música alta. Uma hora e vinte minutos depois, já se pode ver as 22 cúpulas prateadas da esperada Igreja da Transfiguração. Como o prédio principal estava em obras, o jeito foi visitar o vizinho, que abrigava uma exposição de ícones. Outro bom programa é caminhar pelo parque que cerca a construção, aberto ao público apenas três meses por ano, por causa do frio.

Depois de conferir as quatro lojinhas de suvenires, parada para descanso num dos dois bares locais, onde, entre mais de 20 rótulos de cerveja de todo o mundo, me deparei com algo que nunca havia visto: uma garrafa de dois litros e meio. De volta a Petrozavodsk, outra circulada pela orla da cidade antes de voltar à estação para tomar o trem das 23h para São Petersburgo.

Vagões charmosos

A partida foi no trem número 649. É sabido na Rússia que, quanto maior a numeração, pior o conforto (chegamos a Petrozavodsk no carro 18). Mas veio então uma surpresa: os vagões são bem mais antigos, é verdade, mas imensamente mais charmosos. Não há tomada para carregar os telefones e a câmera fotográfica dentro da cabine. Paciência. O jeito é usar a do corredor.

Durante toda a noite, o movimento de homens em direção ao vagão de número oito — é lá que se vendem as bebidas alcoólicas — não para. Peço um chá e pergunto à ferromoça se não sente medo de trabalhar sozinha durante a madrugada, com muitos homens embriagados: “A gente se habitua. A senhora só não está acostumada”, responde.

A ideia era chegar à antiga capital imperial e ir direto para o hotel, mas o bom tempo inspirou uma caminhada pelo Névski Prospekt, a avenida principal da cidade. Que, por sua vez, acabou levando a um lauto café da manhã no Grande Hotel Europe, um dois mais sofisticados da cidade. Croissants eram mantidos em uma chapa quente para não perderem o frescor. Pães, bolos, doces, queijos, frios, caviar e champanhe estavam distribuídos em quatro mesas, o que obrigava os glutões a percorrerem o belo salão de imensos vitrais.

Coleção de arte

Malas no hotel, hora de caminhar à beira do Neva. No caminho, uma olhadinha no Museu Hermitage e no Almirantado. Como já tinha visitado ambos, optei pelo Museu Russo, que abriga a coleção de arte nacional mais rica do país e a mais importante de ícones do mundo (mais de 5 mil peças). Após a revolução de 1917, milhares de obras confiscadas de casas e palácios em todo o país foram incluídas no acervo.

Rússia - Igreja em São PetersburgoSeguindo a visita, um aperitivo no restaurante flutuante Aquarel. Que acabou virando jantar graças à bela vista e ao sabor das entradas. Para fechar a noite, um drinque sob o sol da meia-noite no Seven Sky Bar, localizado no sétimo andar de uma galeria comercial do século XIX.

O segundo e último dia da estada em São Petersburgo começou com visitas à Catedral de Santo Isak e à casa onde nasceu o escritor Vladimir Nabokov, autor de “Lolita”, pouco conhecida até dos próprios russos. E prosseguiu com uma esticada a Peterhof, palácio de verão de Pedro, o Grande, conhecido pelos seus jardins de 176 fontes (ligadas apenas no verão) a 26km da cidade.

O retorno a Moscou, à noite, é em nada mais nada menos do que o trem número 1, conhecido como Flecha Vermelha. Impávidos, de uniformes impecáveis, os funcionários recebem as passagens de luvas brancas, algo que não se vê há algum tempo na Europa. As cabines são novas, têm controle de luz e temperatura, e TV de tela plana com programação de DVDs legendados.

No desembarque, uma sensação de viagem no tempo. Reforçada pelos alto-falantes que ecoavam uma música soviética de homenagem a Moscou.

 

5 comentários em “Nos trilhos da Rússia sob o sol da meia-noite

  1. Moro na Suécia e to pensando em ir a Sao peterburgo, mas o visto….ih..eu quero ir de aviao, e de lá a Moscow de trem..eu e uma modelo…querof azer fotos dela, vestida d enoiva, dentro de um trem desses…kkkk
    Me escreva…preciso tirar umas duvidas

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  2. o pais da america o pais desejado por todos mais que pode abitar nele so alguns anres de lenbrarmos o futuro temos que esqueçer o passado em nosas vidas essa a menssagem que eu deixo a todos os americanos do mundo e do brasil ass jonatham

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