África do Sul sem safári e vuvuzela

Renato Alves (texto e fotos)

Cidade do Cabo – A África do Sul não é feita só de safári, savana e miséria. O sul do país foge desse esteriótipo, sem ser menos fascinante. A região onde a Cidade do Cabo é a principal referência concentra a maior miscelânea de culturas e cenários. Fruto dos séculos de colonização européia e da grande quantidade de asiáticos, que construíram suas casas entre montanhas ou às margens dos oceanos Índico e Atlântico.

O pedaço mais europeu e desigual da África se tornou um concorrido destino turístico pelos charmosos vinhedos, luxuosos hotéis à beira-mar e o litoral recortado. Além da riqueza conquistada à custa do suor e sangue negros, a região também preserva muito da África selvagem. As cidades possuem rico artesanato local, restaurantes com comidas típicas, música nativa nas ruas. E, no lugar dos leões e outros grandes animais terrestres, baleias, pingüins, focas e tubarões brancos.

Essa parte da África do Sul, desconhecida por Dunga, seus comandados e boa parte dos torcedores brasileiros presentes na Copa do Mundo 2010, graças à derrota e eliminação para a Holanda, torna-se ainda mais atraente após o mundial de futebol. Passado o inverno rigoroso e a invasão de turistas estrangeiros, os preços do país voltam a valores quase irrisórios para quem ganha em real. Na primavera e no verão, as estradas estão cercadas por belas plantações, os jardins tomados pelas cores e as inúmeras praias, por banhistas e surfistas.

Portanto, é hora de organizar sua viagem à região onde Nelson Mandela viveu a maior parte dos 27 anos de cárcere, mas onde também houve grande resistência ao apartheid, o regime de segregação contra o qual o líder negro lutou. Ajudamos a traçar o roteiro na série de posts que começa a ser publicada hoje.

Onde o mar beija a montanha

Cidade do Cabo – Com tantas atrações, torna-se impossível conhecer tudo de bom do sul africano em apenas uma semana. Somente a Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul, merece ao menos quatro dias. Afinal, lá há ótimos museus, excelentes restaurantes e belezas naturais que fazem jus à comparação ao Rio de Janeiro.

E como o Rio tem o Pão de Açúcar, a Cidade do Cabo tem a Table Mountain (Montanha da Mesa), nome recebido por causa do formato achatado. Os mais aventureiros podem subir andando até o topo da montanha, em trilhas que duram de 15 minutos a três horas. Ou fazer como a maioria dos turistas e subir de bondinho.

Lá em cima, a vista é de tirar o fôlego. Além das praias, outros importantes cartões postais da Cidade do Cabo podem ser avistados, como a Robben Island, onde Nelson Mandela cumpriu boa parte de sua pena. Há uma lanchonete no topo da montanha, mas muitos levam sua cesta de piquenique. Só torça para o clima colaborar. A neblina pode ser intensa, principalmente nos meses chuvosos (maio a agosto).

Agora, se São Pedro der uma trégua, espere o pôr-do-sol com uma garrafa de vinho local. E constate que a Cidade do Cabo não fica atrás da Cidade Maravilhosa.

Diversidade

No sopé da Table Mountain, o compacto centro da Cidade do Cabo é marcado pela antiga arquitetura holandesa e a vitoriana do século 19, misturada a prédios modernos, grande variedade de restaurantes típicos de diversas culturas e animada vida noturna. Galerias de arte concentram-se na Loop Street, enquanto os pubs ficam na Long Street.

Para quem deseja relaxar sob uma sombra, tomando um sorvete, namorando ou brincando com esquilinhos e admirando a flora local, nada como o Company’s Garden. Em volta da imensa área verde estão o Parlamento e alguns dos melhores museus da cidade, como a South African National Galery e o South African Planetarium.

A menos de 10 minutos de caminhada do jardim, ficam duas construções históricas que também valem uma visita. Uma delas, a Prefeitura, tem estilo renascentista italiano. Da sacada, Mandela fez o primeiro discurso após ser libertado da prisão, em 11 de fevereiro de 1990. Em seu anterior, se apresenta regularmente, na hora do almoço e à noite, a Filarmônica da Cidade do Cabo.

Vizinho da Prefeitura, o Castelo da Boa Esperança é a estrutura mais antiga da Cidade do Cabo. Erguido de 1666 a 1679 para proteger as forças armadas holandeses, hoje abriga um museu e os tradicionais regimentos da Força de Defesa Nacional. Com sorte, verá desfile dos militares em curiosos trajes.

Saiba mais

O ingresso do teleférico para a Table Mountain custa 160 randes (o equivalente a R$ 40) e o piso do transporte dá um giro de 360 graus, permitindo ao turista ver a paisagem de todos os ângulos.

Todo o centro da Cidade do Cabo pode ser desfrutado com segurança em passeios a pé, no horário comercial, quando as ruas e largas avenidas estão tomadas pelos habitantes, sem o habitual trânsito caótico das metrópoles.

Arte de pechinchar

O Green Market Square é uma parada obrigatória de todo turista no centro da Cidade do Cabo. Mercado desde 1806, hoje monumento nacional, a praça pavimentada de pedra recebe diariamente uma colorida feira de artesanato, cercada de prédios históricos, hotéis, pousadas, pubs, lanchonetes e restaurantes. Dos edifícios, se destaca a antiga Prefeitura, construída em estilo rococó em 1755.

No entanto, sem dúvida, a grande atração do Green Market é o mercado de artesanato. São mais de 200 barracas, com artigos produzidos em quase todos os países africanos. Tanta coisa que deixa o visitante perdido e indeciso. Mas trata-se de uma experiência cultural riquíssima ver peças produzidas à mão por diferentes povos do continente, de países como Malawe, Senegal, Quênia e Congo.

Camisetas com estampas do Nelson Mandela e outros líderes, máscaras tribais, colares de pedras, pulseiras de cabelo de elefante, instrumentos de percussão e quadros que retratam danças folclóricas. Peças entalhadas em madeira dos Big Five — os cinco animais mais difíceis de caçar da África; leão, rinoceronte, búfalo, girafa e elefante — podem ser encontradas a 140 randes (cerca de R$ 35).

Insistência

Os vendedores, também vindos de todas as partes da África, fazem de tudo para convencer o turista a levar algum produto. Se não estiver muito decidido sobre o que comprar, nem pense em parar nas barraquinhas. É regra entre os vendedores aproveitar qualquer demonstração de interesse dos clientes (basta um olhar) para oferecer um produto e falar o valor.

Se você recusa, logo eles indagam: “Quanto você paga?”. Bem baixo, pra concorrência não ouvir. Estratégia desconfortável para quem não sabe negociar e ainda mais complicada para quem não está acostumado ao rande. No entanto, na base da barganha, a máscara de 800 randes pode sair pela metade, até um terço.