As atrações da terra natal de Luiz Gonzaga

Paulo Henrique Lobato

Luiz Gonzaga (1912-1989), o Rei do Baião, morou boa parte de sua vida em Minas Gerais (Belo Horizonte, Juiz de Fora e Ouro Fino) e no Rio de Janeiro, mas ele jamais se esqueceu do sertão nordestino, tema de várias de suas canções, como Asa Branca, seu maior sucesso, composto em parceira com Humberto Teixeira e baseado numa música do folclore da região. A saudade do interior de Pernambuco era tão grande que o sanfoneiro mais famoso de todos os tempos decidiu passar os últimos anos de sua vida em Exu, sua terra natal, no sopé da Serra do Araripe. Lá, embora a seca sempre tenha sido um empecilho ao desenvolvimento econômico, Gonzaga construiu o Parque Aza Branca (grafado com zê mesmo).

O local, na prática, é um terreno grande, onde o Rei do Baião construiu uma casa com uma imensa varanda e oito chalés para hospedar os amigos/artistas que faziam shows pela região. Depois de sua morte, o filho, Gonzaguinha, ampliou a estrutura do Aza Branca, cujo destaque é o museu que conta passagens da vida do sanfoneiro. Lá, há discos de ouro, documentos, foles e outros instrumentos musicais, roupas e acessórios usados pelo artista. A entrada custa R$ 4. Mas atenção: é proibido fotografar o acervo. Por sua vez, os flashes são permitidos no interior das outras estruturas do parque, como a casa em que o sanfoneiro morou com a mulher, dona Helena.

Os móveis antigos ainda estão do mesmo jeito que o casal deixou. No quarto, uma pia para a higiene bucal, o armário e a cama. Na sala, a TV e a estante, enfeitada com porta-retratos. Na varanda, cadeiras. Outro destaque é um viveiro construído no quintal e que abriga algumas asas-brancas, pássaro pouco menor que um pombo e considerado o hino da migração no país, pois sua chegada e sua partida de uma determinada região representam o início e o fim do período chuvoso.

A ave foi tema do maior sucesso de Gonzaga. Difícil encontrar algum morador da região que não sabe cantar os famosos versos: “Quando olhei a terra ardendo/qual fogueira de São João/eu perguntei a Deus do céu, ai/por que tamanha judiação (…) Até mesmo a asa-branca/bateu asas do sertão/então eu disse, adeus Rosinha/guarda contigo meu coração”. No parque, também foi construída uma pequena casa de reboco para ilustrar a canção Numa sala de reboco. Os versos dizem assim: “Todo tempo quanto houver pra mim é pouco/pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco”.

José Praxedes dos Santos, de 80 anos, conhece bem o repertório de Gonzaga. Ele foi vaqueiro do sanfoneiro: “Trabalhei para o Gonzaga por oito anos. Ele tinha 100 cabeças de gado e era um excelente patrão. Nos deixou, entre outras coisas, a beleza do Parque Aza Branca”, disse. Hoje, José passa boa parte do dia no principal cartão-postal de Exu.

Atrás da casinha, o mausoléu, onde descansam os corpos de Gonzaga e de sua mulher. O Parque Aza Branca fica a 2km do Centro do município, que também merece a atenção dos turistas. Vá à Igreja de Bom Jesus dos Aflitos, na Praça da Matriz, vizinha ao principal centro comercial da cidade. O templo é do início do século passado. Outra dica é conhecer o projeto Asa Branca, próximo à igreja, no qual crianças e adolescentes têm aulas de sanfona. Eles tocam que é uma maravilha.

Carne de bode

Mas como chegar em Exu? Não há aeroporto no município. Portanto, a melhor opção é embarcar num voo para Juazeiro do Norte (CE), a 75km da terra natal do Rei do Baião. Você pode alugar um carro ou ir de ônibus. Se optar por alugar um veículo, a sugestão é dormir em Juazeiro do Norte, pois a rede hoteleira no município de Padinho Ciço é muito superior à de Exu, com aproximadamente 32 mil habitantes. Não pense que vai encontrar restaurantes confortáveis nas proximidades do Aza Branca, mas tenha certeza de que se sentirá em casa nos poucos empreendimentos que oferecem almoço.

Os comerciantes de Exu têm consciência da importância dos turistas na cidade. Por isso, os pratos — não deixe de saborear a carne de bode, que custa de R$ 15 a R$ 20 — são servidos acompanhados de boa educação e, se o visitante desejar, de gostosa prosa. A 18km de Exu, visite também o povoado de Tabocas, cuja origem é um engenho do século 19, onde eram feitos açúcar mascavo, rapadura e aguardente. As ruínas da edificação e parte do maquinário retratam a história do lugar, que conta com as igrejas de São Sebastião e de Nossa Senhora da Assunção. Por fim, não se esqueça de levar protetor solar e beber muita água, pois a região é marcada pelo forte calor.

Em Juazeiro de VLT

Juazeiro do Norte, com quase 300 mil habitantes, é a maior cidade na Região do Araripe. O principal ponto turístico do município é o santuário em homenagem a Padre Cícero, erguido no alto do maior morro do lugar. Uma estátua imensa e lojinhas de artesanato chamam a atenção dos visitantes, que chegam dos quatro cantos do país. Não deixe de ir ao Centro Histórico, às diversas igrejas centenárias e à cidade vizinha de Crato. O passeio pode ser feito por VLT, uma espécie de trem urbano mais moderno que o metrô.

Onde ficar

Hotel Verdes Vales
(88) 3566-2544
Diárias a partir de R$ 196, com café da manhã. Nos fins de semana, inclui visita a parque aquático.

Hotel Ingra
(81) 3571-2456
Diárias a partir de R$ 99.
Café da manhã incluso

Pousada Aconchego
(81) 3571-4057
Diárias a partir de R$ 78.
Café da manhã incluso