Normandia (5) – Tudo sobre o Mont Saint-Michel

Vista geral do Mont Saint Michel

Renato Alves (texto e fotos)

Dependendo do ponto de partida e do próximo destino, o Mont Saint-Michel pode ser tanto a primeira quanto a última atração do tour pela Normandia. Não importa a escolha, desde que o viajante reserve ao menos um dia e uma noite para a visita à abadia gótica construída a partir de 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou erguer no monte Tombe um santuário em honra a São Miguel Arcanjo (Saint-Michel). No século 10 os monges beneditinos instalaram-se na abadia e uma pequena vila foi se formando aos seus pés, sob uma rocha de granito à beira-mar.

Rua principal da vila do Mont Saint MichelNa divisa com a Bretanha, o Mont Saint-Michel é o lugar mais visitado na França, depois da capital Paris. Mais de 3,2 milhões de pessoas passam por lá anualmente.

Declarado patrimônio da humanidade há três décadas, o conjunto arquitetônico resistiu a diversos ataques ao longo dos seus 1.300 anos.

Aos pés da abadia, hoje existe uma cidadela, com lojas, bares, restaurantes e pequenas hospedarias.

Devido ao pequeno número de quartos dentro da fortificação de pedra, a maioria dos turistas dorme nas vilas próximas. Algumas contam inclusive com hotéis de grandes redes internacionais.

Olho no maré

Durante o dia, a maré recua e é possível deixar o carro em um estacionamento sob o piso de areia grossa, ao pé do monte, por 4 euros. Mas todos precisam ficar atentos à placa da entrada. Ela avisa o horário máximo para retirada do veículo, diferente a cada dia. Ao anoitecer, a maré sobe, toma todo o estacionamento e arredores do monte. Sobra a estreita pista de mão-dupla que liga a vila mais perto, distante 3km, à ilhota rochosa.Turistas caminham na maré baixa

Muita gente aproveita a maré baixa para fazer caminhadas no leito seco do Canal da Mancha, em volta do Mont Saint-Michel e de outra ilha distante, onde não há nada para se ver além de outro morro rochoso. Como cada um tem seu gosto, há a opção de subir em um dos mirantes para ver a maré encher. O local tem a segunda maré mais alta do mundo. O desnível chega a 15 metros.

Na maré baixa a distância entre o monte e a beira-mar chega a 18 km. A cena é rara e bela, mas também perigosa, devido à presença de areias movediças. Por isso os passeios pelo piso molhado devem ser acompanhados de guias credenciados. No fim do dia, helicópteros sobrevoam a área para ver se há grupos perdidos ou cercados pela água.

Entrada da vila do Mont Saint MichelRuas e degraus

A maior parte dos turistas vai ao monte para andar pelas ruelas de pedras medievais, subir e descer os inúmeros degraus que levam aos mirantes e à abadia, no topo.

O acesso à vila medieval é gratuito. Cobram-se 8 euros pela visita ao templo religioso, onde monges beneditinos celebravam nove missas por dia.

Tudo está como há séculos. Como o claustro, com seus arcos góticos, o jardim de plantas medicinais, a vista que se abre para o mar. Ou para os céus.

Em um passeio guiado, o visitante adentra também o refeitório — hoje desativado —, iluminado pelos raios solares que atravessam os vitrais com motivos geométricos.

Claustro do Mont Saint Michel

Nesse ambiente, em silêncio absoluto, os monges faziam suas refeições, ouvindo as escrituras. Embaixo do refeitório, ficavam os hóspedes. A maioria cavaleiros e príncipes. Eles se deliciavam com a comida preparada pelos monges em imensas lareiras.

Parede interna do Mont Saint MichelEm outra sala, colunas dividiam as áreas de estudo de cada monge. A cripta, com suas colunas que suportam o altar, é um tesouro da arquitetura. Em seguida, fica a antiga prisão. Ela abrigava prisioneiros da revolução francesa (1789-1799). Esses eram obrigados a mover a roda do elevador, trazendo provisões a 150m de altura.

Um dos mirantes do Mont Saint MichelFortaleza

Se o monte é tão afastado e cercado pelo mar, como as rochas necessárias para construir a abadia e seus muros chegaram até lá? Elas foram tiradas de pedreiras vizinhas em barcos. Homens as ergueram com as forças dos braços e cordas. Por ter apenas uma abertura e abrigar monges, o mosteiro era descrito como fortaleza eclesiástica.

O Mont Saint-Michel é o único lugar da Normandia que resistiu aos ataques ingleses durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre França e Inglaterra. O monte se manteve intacto durante todas as tentativas inglesas de tomá-lo. Com isso, virou em símbolo da identidade nacional francesa. 

Vista geral do Mont Saint Michel