Brasília — Tesouros de JK abertos à visitação

Sala da Fazendinha JK

Diego Amorim (texto) e Paulo H. Carvalho (fotos)

A fazenda onde Juscelino Kubitschek viveu os últimos quatro anos, na área rural de Luziânia (GO), a cerca de 70km de Brasília, está aberta para visitação. De propriedade da família Servo, cujo patriarca era amigo do ex-presidente, o espaço abriga relíquias nunca antes acessíveis ao público.

A visita guiada é um mergulho na trajetória do construtor de Brasília. Ao passear pela mansão projetada por Oscar Niemeyer — único trabalho do arquiteto fora da zona urbana — e pelos jardins desenhados por Burle Marx, o visitante experimenta momentos de profunda intimidade com a história de JK.

Juscelino comprou o espaço de tamanho equivalente a 1600 campos de futebol em 1972, após ter o mandato cassado pela ditadura militar e de ser proibido de entrar em Brasília. Queria um lugar onde pudesse passar os dias, reunir os amigos e, de lá, ao entardecer, ver as luzes da capital que ergueu no Planalto Central.

Encantou-se com a Fazenda Santo Antônio da Boa Vista, a 70km do centro de Brasília. Decidiu comprá-la e a apelidou de fazendinha. Virou a Fazendinha JK. Ali, ele realizou o sonho de ser produtor rural. Plantou soja, arroz, café, eucalipto, na intenção de provar que o solo do cerrado era fértil.Área externa da Fazendinha JK

Herança preservada

Após a morte de JK, em 1976, o espaço ficou para a família Kubitschek, que, oito anos mais tarde, vendeu a propriedade para Lázaro Servo, deputado estadual pelo Paraná, vítima de infarto em 1999.

Nesse tempo, os seis filhos, os 13 netos e os quatro bisnetos de Lázaro e dona Walkíria, hoje com 75 anos, cresceram naquele ambiente de história viva. A família conservou as características da mansão e os móveis da época. Agora, um projeto desenvolvido durante três anos se concretizou e as dependências da fazenda estão acessíveis ao público.

Grupos de arquitetos, historiadores e admiradores de JK do país inteiro descobriram a fazenda e estiveram nela ao longo desses anos de maneira esporádica e informal. Uma parceria entre a família Servo e o Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae) permitiu o aperfeiçoamento das visitas.

brasilia-fazendinha-jk-capelaCafé colonial

O passeio, que dura o dia inteiro, começa com um reforçado café da manhã colonial.

Pães de queijo, bolo de fubá, leite e café são servidos na construção onde, inicialmente, funcionou a lavanderia de azulejos azuis e, depois, a casa de hóspedes da fazenda.

Nas paredes desse primeiro ambiente estão quadros de fotos em preto e branco da época da construção de Brasília, de JK e de dona Júlia, mãe de Juscelino. Um dos cinco cômodos da casa abriga o escritório de JK, mobiliado com a cadeira que ele usou quando governou Minas Gerais e duas máquinas de escrever Olivetti.

Do lado de fora, a Mercedes 1963 usada na campanha presidencial ainda exibe a placa amarela, os pneus originais, bancos de couro e volante de osso.Sala de estar da Fazendinha JK

Serestas

A mansão inaugurada em 12 de setembro de 1974 ganhou o nome de dona Sarah, com quem Juscelino se casou. No quintal, ele costumava reunir os amigos para almoçar ao redor de uma mesa de pedra. Na sala de jogos e na discoteca, JK organizava festas regadas a pinga e embaladas por violeiros.

A mesa de pôquer, com 11 cadeiras, continua intacta. As prateleiras são enfeitadas por presentes que o estadista recebia, como uma porcelana japonesa e uma licoeira com os traços do Palácio do Alvorada.

Os vidros envelhecidos e o tom alaranjado estão por toda parte. Eram moda na época. As varandas e os janelões de madeira lembram as típicas construções mineiras. A biblioteca com 1,5 mil livros contém obras de cabeceira de JK, incluindo publicações rascunhadas por ele na época em que fez pós-graduação em medicina em Paris.Corredor da Fazendinha JK

Bosque e quadros

Uma lareira divide as salas de estar e jantar, de onde é possível ver o jardim com estilo de bosque e uma das cinco represas da fazenda, todas com água potável. Nas paredes, pinturas de diversas cidades brasileiras, principalmente de Ouro Preto e Diamantina, em Minas.

Por um corredor de carpetes verdes, chega-se às quatro suítes. Três são iguais: armários revestidos com papel de parede floral, banheiros brancos e duas camas de solteirão, com colchões semiortopédicos sob um colchonete de 3cm — exigência de dona Sarah.

O quarto onde Juscelino dormia abriga uma cama de casal de pelo menos 80 anos, um crucifixo e um terço pregados na parede e uma maleta de pôquer. Na cozinha, fogão industrial de seis bocas e panelas de pedra sabão.

Cruzeiro na Fazendinha JKApós o almoço no quintal da casa, à beira da piscina de 1,7m de profundidade, os visitantes segue em uma caminhada de 2km — quem preferir pode ir de carro — até o mirante no ponto mais alto da fazenda, identificado por uma cruz. Lá, onde até hoje se pode ver as luzes de Brasília, como JK queria, foi construída uma capela dois anos após a morte dele.

Perto do pequeno templo, o grupo é convidado a curtir o canto das seriemas no bosque onde JK construiu uma churrasqueira e mandou colocar outra mesa de pedra para se reunir com os amigos. No trajeto de volta ao casarão de tijolo aparente e telhas, os visitantes costumam se emocionar ao cantar Peixe vivo — música que marcou a era JK.

SERVIÇO

Onde fica — A fazenda fica na área de rural de Luziânia, a 70 km do centro de Brasília. Chega-se até lá pela BR-040, entrando pela avenida principal da cidade e seguindo até o Parque de Exposições Agropecuárias. De lá, basta seguir até a estrada de terra, onde depois de 300m uma placa indicará a entrada da fazenda.

Quando ir — As visitas guiadas à Fazendinha JK são realizadas de terça a domingo e precisam ser marcadas com antecedência. Cada grupo pode ter, no máximo, 40 pessoas. O passeio começa por volta das 9h e segue até o fim da tarde, com direito a café da manhã, almoço, lanche e banho na represa.

Quanto custa — O preço por pessoa varia de R$ 80 a R$ 100, a depender do tamanho do grupo. Crianças de até sete anos não pagam.

Outras informações — (61) 8415-5088 e (61) 8447-9452 e pelo site oficial www.fazendinhajk.com

(Diego Amorim e Paulo H. Carvalho são jornalistas do Correio Braziliense)

Brasília, 49 anos — Imagens da construção

Esplanada dos Ministérios com Catedral à frente

Brasília é sede, nesta terça-feira (21), de uma superfesta de aniversário com 18 horas de eventos. Ela vai reunir artistas de renome nacional, atletas em competições esportivas e mais de 5 mil cavaleiros para uma cavalgada na Esplanada dos Ministérios, além de cerca de 1,2 milhão de pessoas que devem conferir as atividades desde as 7h. E há 49 anos, como foram as comemorações da mudança da capital, do Rio de Janeiro para o Planalto Central?

Congresso Nacional em construçãoDesde fevereiro de 1957, 50 mil candangos trabalharam dia e noite na construção dos monumentos de Brasília para que tudo estivesse pronto no dia 21 de abril de 1960. O esforço para a concretização do sonho do então presidente Juscelino Kubitschek deu certo e tudo ocorreu conforme o planejamento.

Os festejos da inauguração de Brasília começaram na noite de quarta-feira, 20 de abril, com uma missa campal celebrada pelo cardeal dom Manuel Gonçalves Cerejeira, no Palácio do Planalto. Segundo a edição histórica da revista Manchete, de 21 de abril de 1960, a celebração contou com as badaladas do mesmo sino que anunciou a morte de Tiradentes em 1792, também no dia 21 de abril.

(Veja reportagem completa aqui)

Eixo Monumental em construção